Saúde mental e sobrecarga de trabalho nas agências brasileiras

15 de junho de 2022 às 16:34


Equilíbrio no trabalho híbrido e prazos de clientes estão entre os desafios das companhias para garantir o bem-estar de seus funcionários

Taís Farias

Em agosto do ano passado, a Fenapro (Federação Nacional das Agências de Propaganda), a ABAP (Associação Brasileira de Agências de Publicidade) e a Abradi (Associação Brasileira de Agentes Digitais) deram início a uma ação para alertar o mercado publicitário sobre o impacto que as demandas excessivas por parte dos clientes estavam causando nas equipes das agências. No movimento, as entidades relatavam que o trabalho dessas empresas havia se intensificado, em todos os aspectos, ao longo da pandemia da Covid-19.

(Crédito: Solarseven/ Shutterstock)

“As solicitações passaram a chegar via WhatsApp diretamente para as equipes, com prazos muito curtos, inclusive para ações complexas”, afirmou Daniel Queiroz, presidente da Fenapro, ao Meio & Mensagem, na época.

A discussão sobre sobrecarga e saúde mental não foi exclusividade do setor criativo. No Guia Salarial 2021, da Robert Half, 53% dos líderes afirmaram acreditar que seus colaboradores estavam mais suscetíveis a crises de estresse, ansiedade e burnout.

Passados dez meses do alerta das entidades sobre as condições de trabalho nas agências, a vacinação contra Covid-19 avançou no Brasil e, com isso, muitas empresas reestabeleceram seu modelo de trabalho, na maioria dos casos, em formato híbrido. Mas, com o novo cenário, como vem sendo tratada a tema da saúde mental dos funcionários?

No mês passado, o portal norte-americano AdAge compilou algumas iniciativas adotadas por agências para lidar com o tema. Aumento nos dias de descanso e auxílio monetário para ajudar no bem-estar financeiro dos colaboradores foram citados.

Realidade brasileira
No Brasil, a adoção do trabalho híbrido aparece como uma das principais heranças do período de isolamento e os contornos dessa flexibilidade são um dos pontos trabalhados pelas agências. “O principal desafio é manter a conexão saudável e equilibrada entre vida pessoal e profissional, tendo em vista um momento em que fisicamente os espaços muitas vezes se convergem”, conta Luana Gonçalves, diretora de RH do Grupo VMLY&R no Brasil.

Recentemente, a agência contratou uma consultoria independente para mapear o bem-estar físico e emocional dos funcionários e, assim, poder tomar ações direcionadas. Entre outras medidas, companhia também conta com um Mental Health Day, dia em que todos os colaboradores são liberados de suas atividades para que possam se dedicar aos seus interesses e questões pessoais.

A GUT afirma buscar um modelo de gestão que considere as demandas dos colaboradores não só a nível profissional, mas pessoal. “Essa á uma cultura interna estabelecida e, inclusive, os times se engajam para ajudar com o trabalho do colega durante qualquer período de ausência”, defende Débora Fernanda, Head de RH Diversidade & Inclusão da GUT São Paulo.

Quando o assunto é a gestão das demandas e carga de trabalho, o relacionamento com os clientes também entra em discussão. “Atualmente, temos horário de trabalho estabelecido em contrato com 100% dos nossos clientes. Não é uma garantia de que conseguimos trabalhar apenas 8 horas por dia sempre, mas é um mecanismo de controle importante para gente”, conta Elise Passamani, chief culture and operations officer da Lew’Lara\TBWA.

“Além disso, desde que retornamos ao escritório duas vezes por semana, temos visto de perto a mudança de comportamento das pessoas, que finalmente se sentem confortáveis para cumprir a carga horária de trabalho e somos grandes entusiastas e apoiadores deste movimento”, acrescenta a executiva.

Débora Fernanda, da GUT, destaca que isso passa, inclusive, por recusar trabalhos quando é necessário. “Nossa régua de prioridades é a seguinte: pessoas em primeiro lugar, ‘jobs’ em segundo e clientes em terceiro. Procuramos adequar os nossos clientes aos fluxos pré-estabelecidos com o objetivo de dar tempo para os times criarem. Nosso negócio envolve criatividade e a natureza disruptiva das ações que idealizamos muitas vezes demandam conversas, tempo etc. Já recusamos alguns Jobs por terem prazos que exigiriam carga horária de trabalho excessiva”, afirma.

A head completa: “Outro ponto que temos atenção é em relação ao volume de demandas para cada ação. Se observamos que o time está sobrecarregado imediatamente trazemos freelas para colaborarem e desafogar a equipe”.

Fonte: Meio&Mensagem


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