Samsung quer usar o vácuo da Huawei para aumentar sua participação no 5G europeu

18 de dezembro de 2020 às 12:46


Por Rui Maciel

Não é só nos EUA e Brasil que a Huawei está enfrentando problemas para emplacar seus equipamentos para a montagem das redes 5G. Na Europa, diversos países vêm evitando utilizar seus produtos para montar suas infraestruturas da quinta geração de internet móvel. E as operadoras de telefonia móvel do Velho Continente começam a considerar a Samsung como fornecedora para preencher o vácuo deixado pela fabricante chinesa.

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Segundo reportagem da agência de notícias Reuters, duas operadoras europeias, a Telefónica (Espanha) e a Orange (França) iniciaram conversas com a Samsung sobre o fornecimento de equipamentos para o seu 5G. Isso ocorreu depois que a fabricante sul-coreana, inesperadamente, fechou um acordo de US $ 6 bilhões com a gigante americana Verizon em setembro último.

Assim como acontece no Brasil, as operadoras europeias estão sob pressão dos Estados Unidos para evitar uso de equipamentos da Huawei em suas redes 5G. O governo de Donald Trump diz que há o risco de a fabricante chinesa espionar os cidadãos ocidentais sob as ordens do governo chinês. No entanto, não existe nenhuma prova de que isso ocorra, de fato. E, claro, a Huawei negue tais práticas com veemência.

No entanto, abrir mão da Huawei em suas redes 5G traz um problema gigantesco para as operadoras europeias: assim como ocorre no Brasil, o hardware da companhia chinesa representa quase metade da rede 4G do continente. E essa estrutura formará a base do 5G, ao lado da finlandesa Nokia e da sueca Ericsson.

Há compatibilidade?
Além disso, para conseguir aumentar sua participação no mercado europeu, a Samsung precisa superar um problema que, talvez, não contornável: as operadoras temem que os produtos da companhia não sejam compatíveis com as redes 4G existentes construídas pela Huawei. E substituir tudo custará centenas de milhões – talvez bilhões – de euros para as operadoras. Isso porque o processo exige a retirada dos dispositivos e sua substituição. Com a permanência da Hauwei, boa parte dessa atualização se daroa através de software.

Quando a Bell Canada decidiu deixar a Huawei ainda nesse ano, analistas estimaram o custo de substituição de seus equipamentos 4G custariam cerca de US$ 200 milhões ao longo de vários anos.

Antena 5G da Huawei na Alemanha: operadoras europeias conseguirão substituir a fabricante chinesa? (Foto: Fabian Horst / Wikimedia – Creative Commons)

Eles precisam ser extremamente competitivos”, disse o diretor de tecnologia da Telefonica, Enrique Blanco a Reuters. “O custo de trocar o 4G é um custo extra para a Samsung, então, mesmo que você esteja convidando a empresa, é difícil para eles serem competitivos.”

Um porta-voz da Samsung disse que a ideia de que seu equipamento não seja compatível com a infraestrutura existente é um equívoco. No entanto, ele não forneceu detalhes técnicos. E também se recusou a especificar em quais mercados europeus está tentando entrar, mas afirmou que espera replicar os avanços que fez na Ásia e nas Américas.

A Verizon está usando a Samsung para várias partes de sua vasta rede nos Estados Unidos. Segundo Nicola Palmer, diretor de desenvolvimento de produtos da operadora, foram feitos alguns testes com a Samsung “e lhes proporcionamos alguns mercados para ver como funcionariam e, então, funcionou bem”.

Negociações e dúvidas
Michael Trabbia, diretor de tecnologia e inovação da Orange, disse a Reuter que também está considerando a possibilidade de usar a Samsung na Europa. Os dois países europeus onde a operadora francesa ainda não escolheu um fabricante de equipamentos são a Polônia e a Romênia.

“Podemos ver que a Samsung está se tornando cada vez mais confiável em 4G e 5G”, afirmou o executivo. Mas ele disse que a Orange testou equipamentos Samsung e Huawei antes de optar pela Nokia e Ericsson para seus sistemas 5G na França.

O fato é que as operadoras europeias já gastaram bilhões de euros para implantar redes de fibra óptica em todo o continente e o 5G vai exigir ainda mais investimentos. Segundo a GSM Association (GSMA) – organização do setor de telecom que representa os interesses das operadoras de redes móveis em todo o mundo – espera-se que US $ 1,14 trilhão sejam investidos globalmente ao longo de cinco anos. E 78% desse total será no 5G.

Citando uma fonte do setor de telecomunicações, a Reuters afirma que a Samsung “ainda não chegou lá”, mas pode ser uma opção no futuro.

Fonte: Canaltech


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