Quarentena: embora cansados, brasileiros não concordam com fim

20 de julho de 2020 às 10:40


Pesquisa da Culture Lab, da agência Africa, revela que 76% da população não concorda com a flexibilização.

Amanda Schnaider

Apesar da fadiga, mais de 90% das pessoas continuam com cuidados como o uso de máscaras e álcool em gel.

Após três meses de quarentena, diversos estados do Brasil, como São Paulo, estão implementando a retomada gradual das atividades. Com isso, para entender melhor como os brasileiros estão lidando com o início desse relaxamento do isolamento social, a Culture Lab, equipe da agência Africa, desenvolveu o estudo “O relaxamento no Brasil”, que revela que 76% da população brasileira não concorda com o relaxamento da quarentena e 58,9% acredita que as pessoas estão agindo de forma mais relaxada do que consciente.

Desenvolvido em junho, o estudo composto por 409 entrevistados de todo o País, de diversas faixas etárias, indica que o primeiro trimestre da quarentena trouxe angústia, cansaço e frustração para os brasileiros e a volta ao “normal” também está gerando angústia. Além disso, os brasileiros estão cansados de ouvir/ler notícias sobre a doença, apesar de continuarem consumindo tais conteúdos, pois 22,2% das pessoas só consomem notícias sobre a doença às vezes e 7,3% quase nunca consomem. Além disso, a busca por “notícias coronavírus” no Google apresentou o menor volume no mês de junho.

“Havia uma necessidade latente em nossos clientes de entender como o relaxamento seria no Brasil, já que o cenário político e econômico é bastante particular e muitas das tendências mapeadas em outros países não se aplicam aqui. Dessa forma, realizamos em junho uma pesquisa quantitativa para entender percepções e ações das pessoas no que se refere à retomada em São Paulo”, explica Caroline Ferraz, diretora do Culture Lab da Africa.

Escapadas da quarentena

A pesquisa também constata que as pessoas estão retornando gradualmente às atividades que não só o trabalho. Na segunda quinzena de junho, 17,4% das pessoas disseram sair para fazer exercícios físicos na rua e 14,7%, para visitar parentes. Apesar disso, os serviços essenciais como supermercados e farmácias ainda aparecem entre os principais motivos para se sair de casa, com 78,2% e 44,3%, respectivamente.

De acordo com especialistas, os furos na quarentena se tornarão mais comuns, porque os mecanismos de defesa do corpo que entram em ação frente a um perigo, como a possibilidade de ser contaminado pelo vírus, param de funcionar depois de um tempo. “Nosso sistema faz esforços para nos adaptar a situações novas e indesejadas, de privação. Mas, quando somos obrigados a fazer isso por muito tempo, esse mecanismo entra em falência e não conseguimos mais racionalizar”, afirma Ricardo Sebastiani especialista em psicologia clínica e saúde pública.

Apesar de cansados da quarentena, algumas medidas de segurança continuam sendo tomadas pelos brasileiros ao sair de casa, como o uso da máscara. Em abril, 60% dos brasileiros achavam a utilização da máscara muito importante, já em junho esse percentual foi para 95%. Também em abril, apenas 34% das pessoas usavam a máscara sempre que saíam de casa, enquanto em junho 95% passaram a utilizar sempre. Além da máscara, outras medidas de higiene e segurança adotadas no começo da quarentena estão se mantendo. Segundo o levantamento, 96,3% dos brasileiros continuam usando o álcool em gel, 90,7% lavando as mãos com frequência e 76,5% mantendo o distanciamento mínimo seguro de outra pessoa.

“Como vemos no estudo, as escapadas se tornarão cada vez mais comuns. E isso possui explicação científica: a falência de mecanismos de segurança ao longo do tempo. Fatalmente teremos mais matérias sobre lotação de espaços, dada a frustração e ânsia de retomada das pessoas. No entanto, surpreende a conscientização em relação ao uso de máscaras e à adoção de novas rotinas de proteção em casa, o que pode gerar novos hábitos para parte da população”, finaliza Caroline.

Meio&Mensagem (20.07.20)


X