Perda de valor e desafios: o que acontece com o Facebook?

4 de fevereiro de 2022 às 15:07


Meta perde mais de US$ 200 bilhões em valor de mercado e Zuckerberg destaca as dificuldades de disputar a atenção dos usuários com as plataformas de vídeos curtos


Bárbara Sacchitiello

Marck Zuckerberg em evento do Facebook Créditos: DavidRamos/GettyImages

Veículos jornalísticos de todo o mundo destacaram nessa quinta-feira, 3, a perda de valor de mercado da Meta, empresa proprietária do Facebook. Em apenas um dia, a big tech perdeu US$ 232 bilhões, o que representa a maior queda diária de uma empresa na história da Nasdaq.

A desvalorização das ações teve impacto direto na fortuna de Mark Zuckerberg, que perdeu US$ 29,3 milhões de seu patrimônio, deixando, temporariamente, a lista das dez personalidades mais ricas do mundo, de acordo com a Forbes. Com a desvalorização, o patrimônio de Zuckerberg ficou em US$ 85,1 bilhões.

Essa queda sem precedentes no valor das ações acontece um dia depois da divulgação dos resultados financeiros da Meta que, embora positivos, ficaram abaixo do que projetavam os analistas do mercado financeiro.

A companhia, dona do Facebook e Instagram, conseguiu uma receita de US$ 32,6 bilhões no quarto trimestre de 2021 – um incremento de 20% em comparação com o mesmo período de 2020. O que desanimou o mercado, contudo, foi a previsão dada pela Meta para o primeiro trimestre deste ano.

A empresa estima que sua receita nos meses de janeiro, fevereiro e março deste ano fique entre US$ 27 bilhões e US$ 29 bilhões. Os analistas esperavam, no mínimo, uma projeção de US$ 30 bilhões.

Com toda essa movimentação, a Meta, que começou na quarta-feira, 2, valendo US$ 898,5 milhões, terminou a quinta-feira, 3, com valor de mercado de US$ 661,3 bilhões.

As declarações de Mark Zuckerberg aos investidores durante a divulgação dos resultados também colaboraram para a queda do valor das ações e sinalizam a situação desafiadora que a empresa vivencia. O fundador do Facebook destacou as ameaças que se apresentam no horizonte da empresa, como a migração do interesse dos usuários para plataformas de vídeos curtos, como o TikTok, a dificuldade de monetizar o Reels, ferramenta lançada no Instagram para fazer frente à concorrência do app chinês, e as novas políticas de privacidade da Apple, que deixou de compartilhar automaticamente com os aplicativos parceiros, como o Facebook, os dados de seus usuários sem autorização prévia.

A menção feita às novas políticas da Apple impactam diretamente as receitas publicitárias da Meta, que correspondem praticamente a todo o faturamento da companhia. A fabricante de smartphones e devices alterou seu sistema operacional de forma a oferecer aos usuários um controle maior de suas atividades online. Com isso, anunciantes do Facebook, Instagram e de outros aplicativos passam a ter mais dificuldade para rastrear esses usuários e, com isso, direcionar ações publicitárias segmentadas, o que poderia diminuir o potencial das redes sociais como plataformas de mídia.

Metaverso e futuro

Outro ponto que causa incertezas nos acionistas, de acordo com a imprensa internacional, é o grande investimento da companhia, divulgado no ano passado, para a construção do metaverso – que não deve gerar resultados a curto prazo.

Em outubro de 2021, a Meta anunciou que destinaria, no mínimo, US$ 10 milhões na criação de seu próprio metaverso. Os valores serão direcionados para o Facebook Reality Labs, pilar da empresa dedicado a desenvolvimento de hardware, software e conteúdo de realidade aumentada e realidade virtual. Antes disso, a Meta já havia declarado ao mercado que aplicaria cerca de US$ 50 bilhões em um fundo para o desenvolvimento de um ambiente digital colaborativo.

Além da questão financeira, a big tech também enfrenta preocupações em relação a sua imagem pública. No ano passado, Frances Haugen, ex-funcionária da companhia, contou à mídia e ao governo sobre situações que teria vivido na Meta. Segundo ela, diretores da companhia tinham conhecimento, por exemplo, de estudos que apontavam os efeitos negativos do Instagram nos jovens e não fizeram nada para corrigir a situação.

O relatório financeiro divulgado pela companhia trouxe, ainda, outro ponto de alerta. Pela primeira vez, a empresa registrou uma queda de usuários de um trimestre para outro. Segundo o balanço, a companhia encerrou 2021 com 1,93 bilhão de usuários diários ativos. Esse número representa 500 mil usuários a menos do que o registrado no trimestre anterior.

Ao comentar os resultados financeiros, Zuckerberg chegou a citar nominalmente o TikTok como uma ameaça na disputa pela atenção dos consumidores. “Aplicativos como o TikTok estão crescendo muito rápido”, disse Zuckerberg, durante a conferência. O Instagram criou o Reels para competir com o TikTok, mas a ferramenta ainda enfrenta desafios para atrair anunciantes. Zuckerberg disse que o negócio do Reels ainda não está totalmente ajustado, mas prevê uma capacidade de gerar receita com os vídeos, citando o Facebook como exemplo.


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