Jornalismo ganha fôlego com novos formatos no streaming
18 de maio de 2020 às 11:46
UOL e Jovem Pan inauguram plataformas digitais que agregam entrevistas, documentários e reportagens; emissoras de TV seguem mesma lógica
Por Danúbia Paraizo
Estreia do estúdio digital da Jovem Pan contou com participação do então ministro Sergio Moro; toda a programação está disponível no Panflix
O interesse pelo conteúdo jornalístico e informações de credibilidade em meio à pandemia da Covid-19 acelerou os investimentos de grandes veículos de notícias no mercado de streaming no Brasil. Não à toa, a produção de séries de reportagens, documentários e outros formatos como programas de entrevistas e pílulas de informação agora está sendo feita com demanda específica para plataformas como GloboPlay, PlayPlus e Facebook Watch, além dos novos players Panflix e UOL Play.
Segundo Tutinha, presidente da Jovem Pan, idealizadora do Panflix, serviço de streaming que chegou ao mercado no último dia 1º de maio, o objetivo é oferecer uma experiência 360° de informação, com diferentes vertentes e pontos de vista. A ideia é que a audiência esteja bem informada e capaz de construir a própria opinião.
Desde 2014, a Jovem Pan transmite a programação da rádio também em vídeo pelos canais do YouTube. Hoje, com investimento de R$ 30 milhões, a empresa tornou-se uma produtora multiplataforma com a ampliação da distribuição de seu conteúdo. Além de programas já conhecidos da casa, como o Pânico, que foi reformatado, e contou com a presença do então ministro da Justiça, Sergio Moro, como entrevistado na inauguração do estúdio 100% digital, o novo streaming hospeda atrações originais produzidas para redes sociais. O programa Tamo Junto é um exemplo. O projeto foi criado para aproximar e dar voz aos ouvintes no período de confinamento.
“Entendemos o quão importante é cobrirmos toda a jornada de consumo de meios e informação, estar onde o nosso público estiver para informar e prestar serviço à população, sempre que necessário. Somos um grupo de comunicação tradicional que soube se reinventar priorizando o conteúdo, o jornalismo factual e opinativo”, destaca Tutinha.
Na mesma semana, o mercado brasileiro recebeu a chegada do UOL Play, serviço que agrega filmes, séries, conteúdo infantil, esportes ao vivo e os principais canais da TV paga, como Sony, Fox e ESPN. O projeto, em parceria com a plataforma de vídeos sob demanda Watch Brasil, prevê também títulos originais do UOL. “Enxergamos no streaming uma grande oportunidade. Este mercado cresce de maneira expressiva e o usuário tem cada vez mais opções. No entanto, não existe atualmente um player que possa agregar os principais serviços em apenas uma assinatura. É aí que entra o UOL Play, trazendo conteúdo para toda a família”, destaca Paulo Samia, CEO do UOL conteúdo e serviços.
Com assinatura a partir de R$ 15,90 por mês, o serviço contempla uma oferta diversa que permite a não concorrência com outros players. “Enxergamos este mercado como uma área onde vários players podem atuar, sem uma concorrência direta”.
Originais
Apesar da vantagem de disponibilizar conteúdos de parceiros já tradicionais em suas plataformas, um filão muito bem aproveitado pelos veículos é a produção original. O Globoplay, por exemplo, tem ampliado sua oferta de jornalísticos. Em março deste ano lançou Marielle – O Documentário, produzido com apoio das equipes de reportagem da Globo, além de filmagens exclusivas. O projeto deu início às séries documentais do serviço de streaming, que prevê para este ano um projeto sobre o caso Evandro, baseada no podcast criado pelo jornalista Ivan Mizanzuk, com direção de Aly Muritiba.
Em nota, a comunicação Globo destaca que “o Globoplay, cada vez mais, quer trazer informação e temas relevantes que dialoguem com a nossa sociedade e o documentário é um gênero de extrema relevância. A série sobre a Marielle foi o primeiro de muitos outros originais que estamos desenvolvendo em parceria com o Jornalismo da Globo”. A emissora destaca ainda que o Globoplay hospeda todo o conteúdo da Globo e do G1, dessa maneira, o público encontra vídeos sobre a crise do coronavírus, pílulas de informações, além de uma extensa quantidade de reportagens produzidas pelos telejornais e programas do grupo.
A Record TV também está ampliando a produção de originais jornalísticos. Com apoio do R7 Estúdio, a emissora traz documentários, reportagens e
séries que ficam disponíveis no site e no Play Plus, serviço de streaming do grupo. “O R7 Estúdio tem um olhar aprofundado sobre os temas, pesquisas e captação detalhada da equipe de jornalismo e contempla minidocumentários jornalísticos exclusivos para o digital. Produzimos esses projetos como extensão de conteúdo de programas jornalísticos como o Câmera Record, retratando heróis da luta contra a Covid-19 ou o trabalho escravo nas lavouras de cacau, por exemplo”, explica Claudia Caliente, diretora-executiva multiplataforma do R7.
Em outras edições, o estúdio de conteúdo produziu pautas de entretenimento, comportamento e consumo, como a entrevista com Elza Soares, abordando empreendedorismo feminino e mercado vegano, entre outros assuntos.
No SBT, o streaming também ganhou força com uma parceria exclusiva com o Facebook Watch. O jornalismo da emissora é responsável por atualizar com documentários e reportagens na plataforma SBT Mulher, focada no fomento a igualdade de oportunidades e no empoderamento feminino. Segundo Carolina Gazal, gerente de conteúdo digital do SBT, parcerias com as principais plataformas, como Facebook e YouTube, elevaram a emissora como uma das principais produtoras do Brasil. São mais de 70 milhões de inscrições em vários canais originais para a internet, como os canais do Carlos Alberto e do Celso Portiolli, entre outros.
Na vertical de jornalismo desde dezembro, o SBT Mulher tem se destacado por abordar um assunto cada vez mais relevante. “São histórias de mulheres batalhadoras, chefes de família, que fazem o Brasil crescer de forma honesta e brilhante. É uma parceria exclusiva e já conta com quase dois milhões de visualizações em cerca de 100 vídeos no Facebook. O projeto envolveu toda a nossa força de reportagem. São entrevistas e matérias em formato de documentário, porém com a linguagem da internet”, destaca Carolina.
Pay TV
Ampliar o acesso gratuito do seu sinal na internet tem sido uma das principais estratégias dos canais pagos para potencializar a audiência durante a pandemia. Na Globonews, desde o dia 15 de março, o público pode acompanhar a cobertura do canal via streaming pelo G1, Globonews Play, Globosat Play, Globoplay internacional e plataforma digitais das operadoras. A medida tem gerado resultados positivos. Segundo dados da emissora, em 24 de abril, dia do pedido de demissão do ex-ministro da Justiça Sérgio Moro, 1,2 milhão de pessoas assistiu à Globonews através do Globosat Play e do G1. A semana registrou um aumento de 56% nos videoviews em comparação ao período anterior.
A CNN também bateu recordes, com pico de audiência no digital no mesmo período. Segundo Douglas Tavolaro, CEO e founder, desde a estreia do canal, há dois meses, foram mais de 6,1 milhões de visualizações em streaming, no site, app e YouTube. “É um desempenho excelente, que supera as metas que havíamos estabelecido. Apenas no mês de abril contamos com três milhões de visitantes únicos no ao vivo, pela internet”.
Segundo o executivo, a ideia é fortalecer ainda mais os conteúdos nativos digitais, que nascem na internet e só depois vão para a TV. Entre os exemplos já no ar, destaque para o CNN Mundo, com Lourival Sant’Anna, com análise das notícias internacionais, e o 5 Fatos, conteúdo diário com os principais destaques do noticiários, que se desdobra em newsletter, podcast e vídeo.
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