Criativos preferem qualidade de vida a bons salários
9 de setembro de 2021 às 16:05
Pesquisa feita nos EUA pela plataforma de talentos Working Not Working mostra que profissionais de agências procuram mais do que situação financeira confortável
*Do Advertising Age
A plataforma de talentos criativos Working Not Working divulgou nessa quarta-feira, 8, uma nova pesquisa que revelou uma descoberta surpreendente: embora a maioria dos criativos de agências de publicidade esteja feliz com seus salários, eles ainda estão considerando uma mudança de carreira.
A Working Not Working, que foi adquirida pela Fiverr em fevereiro deste ano, recentemente entrevistou 850 de seus membros de todo o mundo para seu primeiro estudo, chamado “Adland Careers Now and Future” para entender como eles se sentiam sobre suas situações de trabalho agora e daqui para frente. A pesquisa descobriu que a maioria dos criativos (quase 60%), acredita que foi bastante compensada por seu trabalho – 70%, na verdade, disseram que sua situação financeira era “confortável” ou até superior a isso. Mais de 50%, porém, diz que ainda considera mudar de carreira.
A pesquisa também descobriu que 61% desses profissionais se sentiram menos criativos em seu trabalho durante o curso da pandemia. A maioria, 74%, afirma ter experimentado o esgotamento, seja de vez em quando (42%) ou de forma consistente (27%). Apenas 10% disseram que não experimentaram nenhum tipo de esgotamento.
Dos que já vivenciaram ou estão vivenciando o burnout, 50% atribuem a situação ao número de horas trabalhadas e à falta de motivação para esse trabalho. Os entrevistados são todos criativos que trabalharam na indústria de publicidade nos últimos dois anos.
Os resultados da pesquisa sugerem essencialmente que os criativos procuram ter mais qualidade de vida. “Acho que muitas pessoas se cansaram das más práticas das agências de antemão, mas depois [a pandemia] levou isso ao auge”, diz Justin Gignac, cofundador da Working Not Working. “Você tem um monte de gente saindo, dizendo ‘obrigado pelo meu ótimo salário, mas não estou feliz.’ Há um problema muito maior acontecendo e temos que pensar em como fazer as pessoas felizes. Não são mesas de pingue-pongue, torneiras de cerveja e todas aquelas coisas que costumávamos pensar que gostávamos. Que tal respeitar seu tempo e se preocupar com a sanidade das pessoas?”, sugere.
Desde sua fundação, a Working Not Working tem medido a temperatura da força de trabalho criativa e suas pesquisas têm constatado consistentemente que as agências vêm perdendo seu brilho entre os profissionais. Em sua pesquisa mais recente, na qual perguntaram a criativos freelance em quais empresas eles gostariam de trabalhar em tempo integral, apenas uma entre as dez primeiras companhias citadas era uma agência de publicidade (Wieden + Kennedy). As três primeiras eram grandes marcas (Google, Nike e Apple).
A pesquisa divulgada nessa quarta-feira, 8, também descobriu que 26% dos profissionais acreditam que a maior oportunidade para o trabalho criativo nos próximos cinco anos virá de projetos freelances, enquanto 21% acreditam que virá a partir da abertura do próprio negócio; 18% vislumbraram a maioria das oportunidades em marcas menores, enquanto outros 18% acreditavam que as melhores oportunidades viriam das marcas maiores. Apenas 10% viram a maioria das oportunidades internamente em agências de publicidade, grandes ou pequenas.
“Existem tantas opções diferentes para pessoas que não trabalham em agências”, diz o cofundador do Working Not Working, Adam Tomkins. “Você ainda pode ser uma pessoa criativa para uma empresa de produtos e ter um pouco mais de controle sobre sua programação. Você não recebe ligações frenéticas em uma sexta-feira porque alguém precisa de uma campanha para segunda por causa de um desastre de relações públicas ou algo assim. Isso é apenas business as usual para a vida da agência”, relata.
Recentemente, as agências deram às suas equipes a semana do Dia do Trabalho de folga para apoiar sua saúde mental. Embora os fundadores do Working Not Working acreditem que geralmente isso é uma coisa boa, tal privilégio não deve ser um ato isolado. “Dar a todos uma semana de folga e, em seguida, colocá-los de volta ao trabalho na próxima semana, onde eles terão que trabalhar 90 horas para basicamente ganhar a semana que acabaram de ter de folga não vai valer a pena”, diz Tompkins. “As pessoas não vão ficar”.
O que o mundo da publicidade precisa, eles acreditam, é uma abordagem mais abrangente para tratar seus funcionários de maneira justa. “A compensação não é o problema”, diz Gignac. “As empresas que têm uma mudança holística na forma como estão tratando seus funcionários, como estão olhando para o trabalho e como estão olhando para a flexibilidade vão sobreviver. Todo mundo está se agarrando a algo que não existe mais.”
As agências precisam “se responsabilizar por não ter seu pessoal trabalhando 50 horas por semana”, acrescenta Gignac. “Algumas pessoas estão trabalhando de 80 a 90 horas ou mais por semana. Vamos nos certificar de que estamos realmente utilizando nosso pessoal de maneira humana. Seja mais flexível em como você está disposto a trabalhar com talentos”, alerta.
Gignac sugere que as agências, por exemplo, podem considerar mais flexibilidade, permitindo que os criativos trabalhem em projetos de clientes três dias por semana, enquanto os deixa dedicar o tempo restante a seus negócios paralelos ou outras atividades criativas.
“Precisamos ver como podemos voltar a ser criativos”, diz Gignac. “À medida em que o mundo se torna cada vez mais automatizado, todos os trabalhos restantes serão aqueles que são muito caros para construir um robô para fazer e, em seguida, os trabalhos criativos. Somos a indústria do futuro, por isso temos que nos preparar para isso e fazer tudo o que pudermos para permanecer criativos.”
Fonte: Meio&Mensagem