Com trabalho remoto, agências expandem fronteiras na contratação
17 de agosto de 2022 às 15:19
Com a intensificação do trabalho remoto na pandemia, agências expandem seus olhares para talentos de todo o Brasil, mas ainda enfrentam desafios de integração
Amanda Schnaider
De maio a novembro de 2020, auge da pandemia da Covid-19, a população brasileira ocupada e não afastada no País foi de 74 milhões. Desse número, 8,2 milhões passaram a trabalhar de maneira remota, segundo dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
Posteriormente, com a flexibilização das medidas de distanciamento social, a dinâmica de trabalho em algumas agências de publicidade passou de totalmente remota para híbrida. Algumas delas, inclusive, tornaram a ida ao escritório uma escolha do funcionário e não uma obrigatoriedade, ampliando a possibilidade de contratação de pessoas de todos os lugares do Brasil.
Durante anos, o mercado publicitário brasileiro se concentrou sobretudo no Sudeste do País, mais especificamente em São Paulo e no Rio de Janeiro. Essa realidade ainda não mudou. Entretanto, nos últimos anos, o índice de pessoas de outras regiões brasileiras trabalhando em algumas das maiores empresas de publicidade, como Artplan, Publicis, VMLY&R, WMcCann, Soko, AKQA, F.Biz, DPZ, FCB, iD\TBWA e R/GA, cresceu.
A Publicis Brasil, por exemplo, conta atualmente com funcionários espalhados em mais de 40 cidades de 20 estados brasileiros; a F.Biz possui 45 colaboradores fora do eixo Rio- São Paulo; a iD\TBWA conta com sete funcionários fora dessas duas cidades; já a AKQA lançou, em 2021, o programa AKQA na Sua Casa, focado na contratação de jovens que residam fora desse eixo. No ano de criação do projeto, a agência contratou três pessoas e, neste ano, foram mais três.
Residente em Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Fernanda Hartmann começou a trabalhar remotamente como diretora de atendimento Sênior da VMLY&R em março de 2021, um período ainda delicado da pandemia. Responsável pelo atendimento da Dell – que também trabalha de forma remota – ela coordena um time de 16 pessoas que estão espalhadas pelo Brasil, com gente em São Paulo, Espírito Santo e Rio Grande do Sul, tanto na capital quanto no interior. “Essa descentralização acaba facilitando encontrar os talentos para as posições que não necessariamente estão baseadas numa cidade específica”, opina Fernanda.
Raoni Leão, diretor de criação associado da WMcCann, também trabalha remotamente na agência. Esta é a segunda passagem do diretor baiano pela agência. Antes da pandemia, ele atuou por dois anos como redator senior no time de Banco do Brasil, mas sempre fugiu do eixo Rio-São Paulo por não querer morar numa cidade grande. “Antes da pandemia nunca tinha imaginado em trabalhar em uma grande agência de forma remota. Hoje, eu moro na Bahia e estou super integrado com o time, com os clientes”, afirma.
Desafios do home office
Para Leão, o trabalho remoto está tão integrado em sua rotina que já é um processo natural. “Eu direciono a parte criativa da minha pauta para os horários que me sinto mais produtivo e tento usar as ferramentas de comunicação para manter diálogos abertos com todo o time da agência de forma coletiva e individual”, explica o diretor, reforçando que o processo se torna mais colaborativo por natureza.
Manter o diálogo aberto com todos do time é essencial para uma boa dinâmica de trabalho. Fernanda, da VMLY&R brinca que ela e seu time trabalham o dia todo em reunião, porque essa é a maneira que eles encontram de se manterem conectados. Entretanto, a diretora reforça que é preciso ter bastante disciplina e colaboração para essa dinâmica funcionar. “Trabalhar remoto e fora do ambiente presencial exige essa disciplina e organização para que possa acontecer essa inclusão, para que possamos ter momentos de socialização”, completa.
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O diretor de criação associado da WMcCann enfatiza que saber gerir o tempo e estar integrado com o tempo dos times tanto da agência quanto dos clientes é fundamental para trabalhar neste modelo. “É preciso estar bem atento a agenda diariamente, pois o trabalho remoto é cheio de reuniões e calls que surgem de repente, o que para um criativo pode acabar espremendo o tempo de pensar, fazer brainstorms e estar mais concentrado. Mas a comunicação constante também é importante para ser assertivo e saber que todos estão remando para o mesmo lado, mesmo à distância. Quando se encontra esse equilíbrio, tudo flui com mais flexibilidade e confiança”, complementa.
Integração
Apesar de se sentir integrado com o time e com os clientes, para Leão a maior dificuldade do home office 100% são as relações interpessoais que não envolvem assuntos do trabalho. “No trabalho remoto, você acaba tendo mais contato com aqueles que você lida diretamente, e as relações são muito mais objetivas e profissionais. Isso é uma forma diferente de integração que, no meu ponto de vista, é algo positivo e necessário. É mais fácil separar o trabalho da vida pessoal”, comenta.
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Ter momentos de integração e descontratação é muito importante para Fernanda e seu time. Por isso, pelo menos uma vez por mês, ela e sua equipe se unem para fazer um happy hour online. A diretora ainda enfatiza que a agência precisa estar o tempo todo se esforçando para abraçar os times. “É um desafio constante de fazer com que as pessoas se sintam parte de uma agência maior. Esse é um ponto que estou sempre levantando. Não é um conto de fadas, mas até quando vamos recrutar, é que preciso ficar claro para pessoas desse time, como o time funciona. Tem pessoas que vão se adaptar e tem pessoas que não.
Apesar de todos os desafios e adaptações, ter pessoas de diversos lugares do Brasil nos times das agências é essencial. “Ganhamos em diversidade cultural, pontos de vistas, olhares mais diversos, culturalmente, regionalmente”, afirma Fernanda, da VMLY&R. “Ganhamos muito com pontos de vista diferentes, é como se ganhássemos mais olhos para abranger uma parte maior do Brasil”, completa Leão, da WMcCann.
Fonte: Meio&Mensagem