Mexendo em time que está ganhando
25 de abril de 2012 às 17:31
Vivemos em épocas de transformações. Está ficando impossível pensarmos em comunicação e mídia atualmente da mesma forma como pensávamos no passado. Na verdade, o mundo está passando por uma imensa revolução, principalmente quando avaliamos as perspectivas que a tecnologia está permitindo.
É fascinante observarmos a velocidade destas transformações: a tecnologia que demorou anos para ser desenvolvida, triplica-se em meses e depois em dias, incorporando-se rapidamente ao nosso dia-a-dia em todos os mercados, deixando claro que existe, efetivamente, uma nova velocidade no mundo.
Nesse sentido, as discussões sobre o futuro da comunicação são fundamentais, haja visto a complexidade de mensurar aonde todo esse universo da mídia vai parar. O futuro já chegou.
Com a globalização e a Internet, o mundo ficou pequeno de repente, sem distâncias e fronteiras, e os mercados se interligaram. Na era da aldeia global, a informação ficou acessível a todos. Agora, de qualquer geografia, é possível manter-se atualizado, informado, dividir angústias e dúvidas universais em face da democratização da informação via rede.
Hoje sofremos impacto de tantas informações, que administrá-las é um verdadeiro desafio. Muitos até reclamam da quantidade de informação, mas não dá para negar: como o mundo vive um momento de efervescência e mudanças, este excesso de notícias é apenas um reflexo, uma janela dessa loucura toda que acontece.
O Brasil passou a participar ativamente do mercado mundial globalizado. Diante da nova conjuntura e suas perspectivas, nosso país tornou-se um mercado estratégico para os investimentos internacionais, com grande potencial no segmento de tecnologia, mídia e propaganda. Enfim, o mundo começou a nos ver com bons olhos.
Entre outros fatores não podemos deixar de considerar o talento dos profissionais brasileiros para a comunicação. Mesmo em épocas de maior complexidade econômica, o Brasil sempre pôde se gabar do potencial de seus veículos de comunicação e da comunicação de Primeiro Mundo que gerou. A mídia brasileira, aliás, sempre foi um dos únicos segmentos da economia capaz de competir com igualdade no mesmo setor internacional. Além disso, avalio que o Brasil detém hoje o segundo maior parque de mídia do mundo. Perdendo apenas para o mercado americano.
Com um parque de mídia tão expressivo, evidentemente os impactos não poderiam ser modestos. É uma via de mão dupla: com a evolução fenomenal dos meios de comunicação, as agências de propaganda – que atualmente detêm representatividade internacional, além de uma espetacular receita financeira – acabaram alavancando o desenvolvimento dos veículos de comunicação.
Claro que não podemos deixar de esclarecer que o Brasil se destaca no cenário educacional em relação aos demais países do mundo. Isto porque detemos, muito provavelmente, o maior número de escolas de comunicação do planeta. Além disso, o interesse dos estudantes por este setor é tanto, que já é possível prever os reflexos positivos dessa realidade. À medida que as tecnologias ligadas à comunicação forem evoluindo no cenário mundial, teremos profissionais absolutamente preparados para todas as incríveis mudanças do mercado.
Viver dentro do tradicional certamente parece mais confortável, mas o mundo tornou-se a tal “midiamorfose”.
O Impacto das Transformações nas Agências
Esta revolução decorrente da convergência da mídia e tecnologia trará enormes consequências para as agências de propaganda, em todos os seus setores. Já é possível notar como o mercado publicitário vive hoje uma fase de complexidade. As agências de propaganda, tão acostumadas a desenvolver campanhas dedicadas às massas, agora devem adaptar-se às novas mídias e ao novo comportamento do consumidor, inclusive entendendo as Redes Sociais.
A comunicação moderna é muito mais intimista, pois é dirigida particularmente a cada usuário. É a relação um a um com o consumidor. Nesse sentido, o resultado para o anunciante é muito mais eficaz, pois quanto mais dirigida a comunicação, maior o envolvimento do usuário com a mensagem, o que significa menor dispersão.
Evidentemente, a área da agência que sofrerá o grande impacto decorrente da convergência será a própria mídia. O crescimento do número de internautas cria infinitas opções e oportunidades para atingir o público-alvo na web. O que muda agora é a forma como o indivíduo se relaciona com a publicidade. Na mídia de massa, a publicidade é exposta ao indivíduo; já na publicidade interativa, é o indivíduo que decide se deseja ou não expor à publicidade.
Na era da interatividade, querer se comunicar com o público-alvo, como se ele fosse somente massa é generalização. Agir de outra forma parece mais trabalhoso, mas é preciso ter consciência que enquanto o público vai se individualizando mais complexo será atingi-lo, se continuar considerando-o como a mesma massa, utilizando a mesma linguagem e, respectivamente, os mesmos meios massivos.
Neste mundo novo, as agências de propaganda serão muito exigidas, assim como os institutos de pesquisa que serão cobrados para definir quem é esse novo consumidor, como ele é, o que pensa, o que faz, quais são seus hábitos, comportamentos, etc.
Enfim, é por isso que é muito perigoso viver baseado em paradigmas do passado. Quem se prender na filosofia “Não se mexe em time que está ganhando” estará se reprimindo de ousar, crescer, e correrá um grande perigo.
A esta altura, espero que você tenha percebido, de fato, o imenso perigo que pessoas e empresas estão correndo ao ignorar a atual realidade tecnológica. As novas tecnologias estão sendo incorporadas em nosso mundo de forma muito rápida. Para muitos, isto tudo está trazendo dificuldades e, para outros, oportunidades.
A convergência da comunicação e tecnologia viabiliza uma multiplicação absurda de oportunidades entre os dois segmentos, sinalizando o imenso poder que estas duas áreas terão na economia mundial globalizada. Cabe a cada um se posicionar diante deste futuro imprevisível.
A propósito vou fazer uma previsão do que acontecerá com os portais da Internet, isto no máximo em oito anos, exatamente em 2020. De fato todos se tornarão redes de televisão, pois a enorme oferta de banda criará esta possibilidade. Este fato, bem previsível, foi tema de um capítulo do meu livro Atração Global – A Convergência de Mídia e Tecnologia lançado no Maximídia de 1998.
Importante também perceber que as redes de televisão, com a digitalização em curso e com a chegada da interatividade, também se tornarão portais. Isto vai ser muito legal. E é bom lembrar que tudo deverá começar agora e sofrerá o primeiro impacto em 2016,data definida pela Anatel para a retirada dos sinais analógico da “velha TV aberta”.
Não é sem querer por acaso os investimentos dos portais em vídeo, como o UOL TV, TV Terra, TV IG e até mesmo os portais das emissoras de TV, a exemplo do G1, R7, Band, entre outros.
Exatamente em 2012 teremos a efetiva demonstração deste futuro, isto por causa dos grandes lançamentos que serão feitos, permitindo pela primeira vez a experiência de acessar portais, redes sociais, e-mail, etc, tudo via aparelhos de TV em alta definição. Diversas empresas já estão em fase de produção da Smart TV, a exemplo da Google TV, Apple TV, Sony, Samsung, entre outras.
E o cenário será tão complexo, que trará também o fenômeno das redes sociais, que funcionam publicitariamente de forma mais segmentada, haja vista que os membros das comunidades, em princípio, compartilham informações semelhantes.
Quando em 1998 eu fundei a AMI – Associação de Mídia Interativa, hoje IAB Brasil, o objetivo era implementar e estruturar os negócios publicitários da Internet no Brasil. Já tínhamos excelentes informações do mercado americano e como o Brasil e EUA são muito semelhantes em mídia, era previsível um grande avanço por aqui também. Hoje posso perceber o quanto avançamos.
Provavelmente ainda em 2012 veremos a Internet como segundo maior meio em investimentos de publicidade no Brasil, perdendo apenas para TV Aberta. E muito em breve será o primeiro meio, até porque estaremos falando já da fusão da TV com a Internet.
Dois dos maiores grupos de comunicação deram depoimentos recentes sobre a convergência. Octávio Florisbal, diretor geral da Rede Globo, anunciou que a Rede Globo de Internet fica pronta ainda este ano 2012. Da mesma forma Roberto Civita, da Editora Abril diz não ter mais dúvidas: “O futuro é digital, não tem, não faz sentido que não seja. É mais simples, é mais barato. Envolve não cortar árvore, gastar diesel, não ter problema com reciclagem”.
Ou seja, os maiores grupos de comunicação já perceberam os impactos futuros. Agora é necessário que as agências de publicidade também entendam este movimento. Até porque a excelência da propaganda brasileira se deve à excelência dos cem anos da mídia brasileira. E se estes cem anos agora estão em mutação, o mesmo valerá para o futuro da propaganda.