Ainda estamos vivos – Por Humberto Mendes – VP Executivo – Fenapro

6 de março de 2020 às 11:14


Sonhei um sonho altamente preocupante. Talvez seja porque sempre que alguma coisa ameaça por em risco as coisas que amo, fico com aquilo na cabeça e acabo sonhando à noite.

“Eu fazia meus contatos no mercado e conversava com um diretor de empresa, não digo seu nome porque não lembro, só o que sei é que aquela pessoa não demonstrava um mínimo de respeito pela minha profissão que é também a dele e de todos nós, a propaganda. Enquanto eu argumentava que deveríamos fazer um esforço para manter os nossos Sindicatos operando e trazendo de volta as agências que debandaram, (a dele também já estava se preparando para debandar), obedecendo a uma nova regra idiota embutida na Reforma Trabalhista, que tornou opcional o recolhimento do imposto sindical, comentava que conhecendo como conhecemos muitos de nossos empresários, o simples fato de ser agora opcional recolher ou não o imposto, sindical, já seria mais do que suficiente para empresas como a dele, deixarem de pagar, mas que indubitavelmente continuariam praticando a esperteza ou malandragem de usar os préstimos dos Sindicatos e das entidades de classe.

Minha insistência nesse ponto é porque todos sabemos o quanto foi e continua sendo importante o trabalho dos Sindicatos já que eles são, como sempre foram, o melhor ponto de apoio das agências. Na minha argumentação eu contava, como velho que sou, histórias da propaganda e de como ela colaborou para o desenvolvimento da humanidade: lembrava grandes campanhas que nossas agências já fizeram, destacando a celebre campanha que Henry Ford e sua agência a Thompson, criaram durante a segunda guerra mundial, “Há um Ford em seu futuro… prevendo que a Guerra não duraria sempre e o resultado é que quando a guerra acabou a Ford vendeu tudo o que tinha e o que ainda iria produzir. Eu tentava mostrar àquele cidadão como a propaganda brasileira com o apoio dos nossos Sindicatos de Agencias se organizou em todo o pais e como, de lá para cá temos ajudado o Brasil na formação de um grande parque industrial, de um enorme movimento de varejo e uma rede de meios de comunicação das melhores do mundo além de outras relevantes realizações.

O homem não me deixou terminar de expor minha proposta e sua argumentação toda, girou em torno de uma colocação, que, como nunca imaginei, pudesse vir dele, como: “não adianta querer acreditar que o publicitário brasileiro quer saber de levantar uma relevância que a propaganda não tem, nunca teve e nunca vai ter. Pra que falar do passado se nada mais resta dele?”

Isso para mim, soou como renegar a história e quem renega a historia, renega sua própria existência.

Fiquei pasmado com seus argumentos, principalmente com a absurda colocação quase que convicta de que o nosso negócio acabou e tem vida curtíssima. Saí daquele encontro muito triste e frustrado por não poder recomendar a ele que abandonasse a atividade e montasse outra coisa mais compatível com aquela sua disposição de momento.

Por falar em lembrar do passado, lembrei que Caio Domingues, meu guru e grande mestre, fazia, ainda que por brincadeira, a seguinte recomendação : “Se você vai montar uma agencia pra não acreditar na importância dela como empresa ética, útil e capaz de enfrentar os problemas do seu mercado, melhor seria montar um prostibulo …”

Bem amigos, como sou um cara quixotesco pois acredito que é possível o tempo todo ter fé naquilo que fazemos, vou continuar propondo que não abandonemos a luta, enquanto estivermos por aqui.

Afinal ainda estamos vivos e sonhando com um futuro melhor para a nossa atividade.

Humberto Mendes


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