Agências programam retorno aos escritórios

19 de outubro de 2020 às 12:32


Decisão contempla limite de ocupação, decisão dos funcionários, saúde e segurança; mas aprendizado do home office integral fica

Por Jéssica Oliveira e Paulo Macedo


Assim como outros trades, o mercado publicitário está considerando o retorno às atividades presenciais nos seus escritórios. De forma parcial, híbrida e consensual. O Grupo Ogilvy Brasil, liderado por Luiz Fernando Musa, que também é chairman da David, agendou para novembro a retomada após sete meses 100% home office. Fernando Figueiredo, fundador e CEO da Bullet, adotou a volta à sua sede no início deste mês de outubro. A WMcCann estará com suas portas abertas a partir do dia 3 de novembro para até 10% da capacidade do escritório. A mesma data foi escolhida pela FCB Brasil para trabalhar na estrutura física. A AlmapBBDO terá retorno opcional em novembro e definitivo em janeiro de 2021. A Africa realizou pesquisa que apontou o desejo de funcionários de materializar a possibilidade e já trabalha com parte da equipe no espaço físico.

Patrícia Fuzzo e Luiz Fernando Musa, do Grupo Ogilvy, programaram reinício da operação na sede para novembro (Alê Oliveira)

Apesar da expectativa, as agências estão atentas aos protocolos e não querem exercer pressão para interferir na liberdade de escolha dos seus colaboradores. Quem quiser permanecer no home office pode seguir com autonomia de decisão. O store planning dos espaços internos também será redimensionado. “O espaço será todo reconfigurado, seguindo as normas do governo local e as diretrizes globais, sempre com foco na segurança daqueles funcionários que optarem em voltar fisicamente para o escritório”, explicou Sandra Denes, VP de recursos humanos da FCB Brasil.

A David, como esclarece a COO global Sylvia Panico, não formalizou o momento para sua equipe atuar junta de novo, mas tem a convicção de que nada será como antes. “Quando houver data definida, será uma volta parcial e 100% voluntária. Não vamos seguir como antes da pandemia. Teremos adaptações.”

Rino Ferrari Filho, presidente da Rino, fala que só as áreas administrativas, financeira, serviços gerais e manutenção retornaram à rotina anterior à pandemia. “Imaginamos que o retorno será de acordo com as necessidades de trabalho, tornando a sede da agência muito mais um ponto de encontro das equipes e com os clientes do que um espaço de utilização diária convencional. O critério deverá ser geral, mas serão consideradas também as situações e características pessoais de cada colaborador (muitos produziram melhor em home office, aproveitando melhor o seu tempo).”


Flexibilidade é palavra de ordem no mantra das lideranças das agências. A Bullet, por exemplo, oficializou seu retorno no início deste mês de outubro. Sua sede, em São Paulo, que tem mil metros quadrados de área, passa a ter perfil de “área de convivência”, nas palavras do fundador e CEO Fernando Figueiredo. A Bullet também vai abrigar o parceiro de tecnologia e performance GTC Digital. Ao todos são 80 profissionais.

Figueiredo: “Espaço será destinado à convivência” (Alê Oliveira)

“A prioridade no momento é dar todas as condições para o modelo individual prosperar. Tem gente que está adorando trabalhar direto de casa. Tem gente que vê a abertura da agência como uma forma de aliviar a pressão da casa, e assim vamos buscando o novo normal”, fundamentou Figueiredo. “O modelo está sendo testado. Liberdade total em um primeiro momento. Estabelecimento de alguns dias da semana para nos conectarmos pessoalmente, sem obrigação alguma, e as coisas vão se adaptando até chegar em algo que funciona para os dois lados. Vai ser divertido”, acrescentou o executivo.


A timeline da AlmapBBDO prevê o presencial para janeiro do ano que vem, mas vai permitir já em novembro a saída do home office, com limite de 30% do volume de pessoal contratado. “A partir de novembro estamos reabrindo para uma volta voluntária e gradual. Temos algumas regras: não pode fazer parte do grupo de risco, estar com sintomas de Covid-19, nem ter tido contato recente com alguém contaminado. Fizemos uma cartilha com todos os protocolos a fim de criar um ambiente o mais seguro possível”, explanou Monica Kamimura, head de RH da AlmapBBDO.

Monica Kamimura: retorno gradual na AlmapBBDO (Divulgação)

Luiz Fernando Musa, fundador e chairman da David e CEO do Grupo Ogilvy no Brasil, faz questão de frisar que a prioridade é o bem-estar e a segurança da equipe. A abertura ocorre neste mês de novembro, mas voluntária e limitada a 30% dos profissionais.

“O objetivo é usar este período para aprender a nova dinâmica mista de trabalho. Sentimos que era fundamental ter o espaço físico pronto e disponível para aqueles colaboradores que nos sinalizaram a necessidade desta alternativa”, justificou Musa, que elenca alguns ganhos da quarentena. “A flexibilidade do trabalho tanto em casa quanto na agência veio para ficar. A possibilidade de reduzir e, talvez, até eliminar as viagens de negócios para uma reunião específica também deve ficar. A importância da tecnologia e conexão, e como podemos fazer diferente e encontrarmos maneiras de produzir sem estarmos fisicamente juntos, também fica.”

Em 2021 o Grupo Ogilvy estuda novo modelo, mas com base em pesquisas, de acordo com Patrícia Fuzzo, chief talent officer da região Latam da marca do WPP. “Do ponto de vista de gestão, a gente está proporcionando uma curva de aprendizado interessante porque em algum momento esse retorno vai ser mais regular. E quando isso acontecer, queremos ter experimentado esse modelo híbrido. Esse formato de home office é bastante novo. Coletar essa experiência do modelo misto até o fim do ano seria bacana também para as pessoas, que poderão testar como se sentem ou trabalham melhor em cada formato”, observou Patrícia.


A BETC Havas já vem realizando reuniões do board no seu headquarter em São Paulo. O CEO Erh Ray escreveu no seu Facebook que tem “saudade” da rotina no local. A agência tem um comitê para ponderar segurança e saúde do grupo.

Ray fala que BETC Havas tem app para agendar reuniões (Divulgação)

“Precisamos sair das telinhas e voltar para o ao vivo aos poucos”, ressaltou Ray, que prossegue: “Tropicalizamos as normas do grupo e as adequamos seguindo as reais necessidades do nosso escritório. Outro ponto importante é que criamos um app para que as pessoas possam agendar as reuniões presenciais.”

Regras das autoridades e protocolos globais do Havas é o que norteia as decisões de Marcos Lacerda, CEO da HavasPlus. “Não há pressa, ansiedade e nem uma necessidade de uma volta imediata”, disse.


Na Africa, Carla Guimarães, diretora de gente e cultura da agência, fala que desde o dia 21 de setembro há contingente no ambiente físico da empresa. “Hoje 12% do nosso quadro de funcionários tem trabalhado na agência em alguns dias da semana.”

Carla Guimarães lembra que Africa reabriu em setembro (Divulgação)

A Mullen Lowe está em obras de adequação para ficar mais alinhada com o momento. O CEO André Gomes enfatiza que o plano “é oferecer todas as condições para receber um time que adotará o home office parcial como modelo”.

Gomes, da Mullen Lowe: “Construindo um novo espaço” (Divulgação)


Alexandre Carmona, da Innova AATB, não especificou prazo. Cautela é palavra recorrente no seu vocabulário. “Temos sido bem transparentes com o time. Todos sabem que não existe previsão de voltar no momento, que, sendo possível, aguardaremos até tudo estar superseguro. Mas não pensamos em migrar definitivamente para um regime sem agência presencial.”

Na Innova AATB, Alexandre Carmona recomenda cautela (Divulgação)

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