Cannes promete banir por três anos quem fraudar festival

Evento apresentas regras que incluem aprovação de videocases por líderes de agências e anunciantes

O Cannes Lions anuncia nesta quinta-feira, 10, um documento que chama de Novo Padrão Global de Integridade Criativa.

Trata-se de mais uma reação à maior crise de reputação da história do evento, desencadeada pelo apontamento de irregularidades em diversos cases vencedores em 2025 e pela cassação do Grand Prix concedido a um projeto da Consul e da devolução total de 12 Leões pela DM9, por “inconsistências graves relacionadas à veracidade ou legitimidade”. O caso impressionou pelo uso de inteligência artificial para falsificar imagens e vozes de uma reportagem da CNN Brasil e uma apresentação do TED Talks.

Segundo a organização do evento, houve uma completa revisão nas regras do festival para garantir “responsabilidade, rigor e confiança”, motivada por “preocupações coletivas em torno da manipulação, da mídia sintética e do uso de IA”. A partir de 2026, todas as inscrições no Festival Internacional de Criatividade estarão sujeitas a novas medidas de responsabilização e padrões de integridade.

Para garantir a nova regra de Propriedade e Autoria, toda inscrição, incluindo os videocases, deverá ser aprovada pelo líder de negócios da empresa participante e por um profissional de marketing sênior da marca contratante.

O segundo tópico se refere a Veracidade das Informações. Para isso, o festival promete um sistema rigoroso de verificação de fatos em duas camadas, combinando checagens manuais com análises conduzidas por IA para questionar a veracidade das informações constantes em cada inscrição.

Os jurados terão acesso a um especialista independente em dados e mensuração para fornecer um escrutínio técnico adicional sobre as alegações de eficácia da campanha e repercussão na mídia. Além disso, o festival terá um Manual de Integridade da IA, definindo o que é aceitável e o que constitui violação às regras. O Manual será construído com base nas diretrizes da OCDE e da Unesco.

As Consequências da Fraude são o terceiro quesito do Novo Padrão e dizem que o Cannes Lions poderá desqualificar ou retirar qualquer inscrição, em qualquer fase do, inclusive após a premiação, caso seja constatada falsidade ideológica. Estabelece também sanções por má conduta deliberada: empresas que apresentarem intencionalmente trabalhos falsos ou enganosos poderão ser banidas da participação por até 3 anos.

O quarto tópico trata de Devido Processo Legal e Supervisão Independente, dizendo que todos os casos de irregularidades encaminhados serão analisados por um Conselho de Integridade recém-criado, composto por especialistas jurídicos, éticos e neutros.

As regras do Novo Padrão se encerram com Transparência na Governança, com o Cannes Lions prometendo a publicação de uma Auditoria de Integridade anual que irá não só documentar casos ocorridos como sugerir melhorias contínuas no sistema.

“A criatividade só tem valor se for crível. E a credibilidade deve ser conquistada, não presumida. Essas mudanças oportunas marcam o início de uma nova era para todos nós – não apenas para o Cannes Lions, mas para o futuro do marketing criativo global”, diz Simon Cook, CEO do Lions, no comunicado oficial que anunciou as mudanças.

Regras sobre uso de Inteligência Artificial

Antes, quando anunciou a cassação dos prêmios entregues à DM9, a organização do Cannes Lions já havia divulgado a criação de um novo conjunto de regras com a proposta de evitar, sobretudo, fraudes e distorções nos trabalhos inscritos pelo uso de inteligência artificial.

Nesse novo código estaria, entre outras determinações, a de que as agências e anunciantes informem quando a inteligência artificial for utilizada como parte do processo de inscrição dos cases.

Quem não avisar que aquela inscrição ou trabalho contam, de alguma forma, com uso de inteligência artificial, terá seu caso desqualificado e retirada dos julgamentos da premiação.

Apesar de exigir a infmação de quem utilizar IA nos trabalhos, a organização também contará com métodos próprios para verificar a presença da tecnologia.

A organização comunicou que poderá usar ferramentas de detecção para identificar filmes e eventuais materiais que tenham sido alterados ou manipulados com inteligência artificial.