Por Que Precisamos Falar de Menopausa no Trabalho

18 de outubro de 2024 às 11:12


Até 2030, a população mundial de mulheres na menopausa e pós-menopausa deverá chegar a 1,2 bilhão; grandes empresas começam a entender a urgência de abordar o tema

Em um movimento novo no mercado de trabalho, empresas estão começando a apoiar as mulheres durante uma das fases mais marcantes da vida: a menopausa. Muitas companhias perceberam que criar um ambiente de trabalho inclusivo para as mulheres especialmente nessa fase inevitável da vida é não apenas um imperativo moral, mas também uma necessidade estratégica.

A menopausa impacta metade da população por uma parte significativa da vida. Até 2025, mais de 1 bilhão de pessoas em todo o mundo estarão na menopausa. Esse período, marcado por mudanças hormonais e ajustes fisiológicos, pode afetar significativamente a trajetória profissional, especialmente se continuar sendo um tabu no mercado.

Historicamente, a menopausa foi considerada um tema relevante apenas para mulheres mais velhas. Mas a realidade é que o climatério, período de transição que antecede e sucede a menopausa, começa, em média, aos 45 anos para a maioria das mulheres. Além disso, coincide com o momento em que muitas estão assumindo (e até deixando) posições de liderança, o que impacta não apenas as profissionais, mas o mercado de trabalho como um todo.

Neste Dia da Menopausa (17), entenda o que as companhias podem fazer (e como muitas já estão se movimentando) para abordar o tema e tornar o ambiente de trabalho mais inclusivo.

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Evitar o tema da menopausa no ambiente de trabalho pode levar à saída de lideranças femininas

O impacto da menopausa na economia
Poucas condições rivalizam com a menopausa em termos de prevalência e previsibilidade; apenas diabetes e câncer se aproximam, embora nenhuma afete uma parte tão significativa da população. Só nos Estados Unidos, o impacto econômico da menopausa chega a mais de US$ 26,6 bilhões (R$ 150,9 bilhões), segundo estudo da Mayo Clinic. Esse valor engloba custos diretos com saúde e indiretos resultantes da perda de produtividade e absenteísmo.

Uma parte desses efeitos financeiros — aproximadamente US$ 1,8 bilhões (R$ 10,2 bilhões) — pode ser atribuída à perda de produtividade. Os sintomas da menopausa, que vão de ondas de calor a mudanças de humor, podem afetar o desempenho no trabalho, especialmente se esses quadros não forem identificados e tratados.

Kate Renwick-Espinosa, presidente da VSP Vision Care, uma das maiores empresas de planos de saúde oftalmológico dos EUA, ressalta o papel da liderança em ajudar as mulheres a atravessar esse momento da melhor forma, dentro e fora do trabalho. “Como líderes, é essencial reconhecer os desafios invisíveis que nossos colaboradores podem enfrentar durante as transições da vida.”

O efeito contrário disso resulta na saída de mulheres do mercado de trabalho em um momento que muitas vezes coincide com o auge das carreiras femininas. Nos EUA, 1 em cada 10 mulheres deixa seu emprego devido a sintomas da menopausa que interferem na sua vida cotidiana, de acordo com pesquisa da Mira, plataforma de rastreamento de fertilidade. Essas profissionais, muitas vezes em cargos seniores, têm grandes responsabilidades, e sua ausência pode impactar a estrutura e as operações do negócio. Os dados deixam claro a urgência de as organizações abordarem os desafios relacionados à menopausa e oferecerem suporte às mulheres.

Grandes organizações, principalmente nos Estados Unidos e Europa, estão começando a garantir não só que haja espaço para falar sobre o assunto, mas que as mulheres tenham licenças e outros benefícios relacionados a esse momento da vida. “As empresas precisam abrir espaço para que as mulheres falem livremente sobre seus sintomas. O silêncio não ajuda ninguém. Os gerentes podem abrir o diálogo por meio do aprendizado”, aconselha Dr. Nick Panay, presidente da Sociedade Internacional de Menopausa.

A gigante química Quaker Houghton desenhou uma campanha de conscientização, mudou o tecido dos uniformes das mulheres nas fábricas, adicionou dispensers de água e criou políticas que permitem que as funcionárias tenham flexibilidade no trabalho durante os sintomas.

Entre outras iniciativas, o Banco da Irlanda passou a oferecer licença remunerada de 10 dias por ano para as funcionárias com sintomas físicos ou psicológicos relacionados à menopausa. Assim como a varejista britânica ASOS, que anunciou que suas funcionárias teriam flexibilidade no trabalho e poderiam pedir licença sem aviso prévio ou trabalhar de casa.

Os impactos do tabu no trabalho
Políticas de igualdade e flexibilidade no ambiente de trabalho impulsionam as mulheres a alcançar posições mais altas. A menopausa geralmente coincide com um momento importante da carreira das mulheres, tipicamente entre os 45 e 55 anos. E como essa fase da vida geralmente dura entre 7 e 14 anos (com a persistência de alguns sintomas por período indefinido), milhões de mulheres no pós-menopausa assumem cargos de liderança enquanto experimentam uma série de sintomas.

O estudo Mulheres no Local de Trabalho, da McKinsey, lança luz sobre um aspecto frequentemente negligenciado da experiência da menopausa no trabalho: as microagressões. Essas formas sutis de preconceito, como comentários depreciativos, piadas ou atitudes arrogantes, banalizam as experiências físicas e emocionais associadas à menopausa.

Segundo a pesquisa, muitas mulheres se autoprotegem no trabalho por medo de serem vistas como fracas ou vulneráveis, o que também acaba impedindo que compartilhem suas experiências e necessidades abertamente. Consequentemente, as profissionais podem evitar discutir os sintomas da menopausa por receio de julgamento ou equívocos sobre sua competência.

Millennials na perimenopausa
De acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde), em 2021, as mulheres com 50 anos ou mais representavam 26% de todas as mulheres e meninas no mundo, um aumento em relação aos 22% de uma década antes. Agora, uma nova geração está entrando nessa fase da vida: as millennials.

Essa geração agora enfrenta a perimenopausa — o estágio anterior à menopausa — que pode começar já no final dos 30 ou início dos 40 anos. É durante esse período de transição que os efeitos das ondas de calor e da instabilidade emocional podem ser mais intensos e debilitantes.

Desde que entraram no mercado de trabalho, as millenials ficaram conhecidas por priorizar fatores como saúde mental e física, equilíbrio entre vida pessoal e profissional e uma cultura de trabalho colaborativa. À medida que navegam pela perimenopausa, suas expectativas em relação aos empregadores vão além dos benefícios tradicionais. Elas buscam locais de trabalho que entendam e acomodem as experiências únicas e os desafios que acompanham a menopausa.

“Dado o tamanho e a gravidade do desafio, há surpreendentemente poucos recursos confiáveis disponíveis para as mulheres”, diz Deborah Anderson-Bialis, cofundadora e CEO da Inflection. “Por meio da educação, as mulheres se sentem seguras para obter os cuidados de que precisam e participar ativamente da tomada de decisão com seus médicos. Muitas das organizações consideradas Melhores Empresas para Trabalhar lideram o caminho com um suporte mais holístico à menopausa.”

Papel das empresas
A medicina carece de uma abordagem holística para tratar a menopausa — a maioria dos programas de residência médica oferece pouca ou nenhuma instrução sobre como ajudar os pacientes a abordarem o tema. Essa lacuna leva as mulheres a buscarem informações e conselhos fora dos sistemas de saúde tradicionais.

Ao promover conversas abertas por meio de webinars, workshops e sessões informativas, as empresas podem quebrar o estigma, normalizar discussões sobre essa fase e criar uma rede de apoio para mulheres em todos os estágios da carreira.

Conscientização: Mulheres mais jovens precisam de informações precisas sobre a menopausa. Ao discuti-la abertamente, elas podem entender melhor o que esperar e como lidar com os sintomas quando o momento chegar.

Preparação: Quando as funcionárias mais jovens estão cientes da menopausa, podem se preparar. Essa abordagem proativa reduz o medo e a ansiedade associados ao desconhecido. Por exemplo, muitas mulheres são erroneamente levadas a acreditar que seus episódios de “névoa mental” são precursores de Alzheimer ou demência.

Redes de apoio: Grupos de liderança feminina podem criar redes de apoio que permitem às mulheres compartilhar experiências, buscar conselhos e aprender umas com as outras. Colegas mais velhas podem oferecer insights, enquanto as mais jovens trazem novas perspectivas.

À medida que se prioriza o bem-estar dos profissionais nas estratégias de negócios, a falta de suporte à menopausa ainda continua como uma lacuna persistente. Enfrentar essas necessidades não é apenas uma consideração de RH, e sim um aspecto importante da liderança. Envolver todos os executivos é um imperativo estratégico para alinhar o compromisso desde as metas ESG até a criação de um ambiente inclusivo que reconheça e atenda ativamente os desafios da menopausa e de outros momentos e necessidades dos profissionais.

Ao priorizar a menopausa como um aspecto-chave do bem-estar e da produtividade das mulheres, as organizações podem reter profissionais experientes e líderes no auge das suas carreiras e impulsionar as novas gerações de lideranças femininas.

*Mary Tinebra é membro da C200, associação das principais mulheres empresárias corporativas e empreendedoras do mundo. Ela liderou equipes na criação de estratégias de recursos humanos de classe mundial e tem um histórico de otimizar a interseção entre as necessidades dos funcionários e a tecnologia. Atualmente, Mary atua como dirigente da Inflection, uma plataforma global líder em educação digital na área de saúde.

Fonte: Forbes


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